Nesse ano de 2023, tivemos uma daquelas grandes rivalidades na indústria cinematográfica: "Barbie vs Oppenheimer" ou "Barbenheimer". Desde a divulgação que ambos teriam a estreia no mesmo dia - 20 de julho - os fãs impulsionaram a divulgação de ambas as obras com uma competição na internet entre "um filme preto e branco vs um filme rosa", numa espécie de mutualismo.
Dirigido e escrito pelo cultuado Christopher Nolan, responsável por obras como "Batman O Cavaleiro das Trevas", "Interestellar" e "A Origem", Oppenheimer é uma referência bibliográfica de J. Robert Oppenheimer, o físico americano que durante a 2º Guerra Mundial, recebeu a oportunidade do governo americano para liderar o Projeto Manhattan, resultando na criação das primeiras bombas atômicas que o mundo conheceu e que foram utilizadas na explosão das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, decretando o fim da guerra em 1945. Graças a isso, Robert Oppenheimer recebeu a alcunha de "pai da bomba atômica".
A construção do filme não é linear, isso se deve ao fato de que ela se divide em dois períodos de tempo distintos, onde mistura cenas do passado e do presente, caracterízadas em cores e a outra em preto e branco. Essa escolha de narrativa dá diferentes sentidos para cada cena, tornando a experiência de 3h envolvente e intimista, onde apesar do tamanho extenso para um filme, essas 3 horas são muito bem trabalhadas e passam de forma fluída, muito também, graças ao elenco de peso que está envolvido no projeto, com - premiados - nomes como Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Rami Malek, Emily Blunt, Matt Damon, etc. E ainda que todos os personagens tenham seu arco e tempo de tela próprios, todos giram em torno da figura de Murphy como Oppenheimer. Na qual, o ator interpreta com sobriedade e propriedade cênica um personagem que está no epicentro de toda a tensão que um assunto delicado como A Grande Guerra pode gerar, demonstrando a todo momento o seu pesar em consequência da sua criação.
Mas apesar disso, Oppenheimer é um filme que - como o próprio nome indica - trabalha muito mais sobre o personagem, do que sobre a situação em si, ao buscar explorar aspectos da vida cotidiana e profissional de Robert Oppenheimer, com diálogos que misturam temas complexos, de esferas profissionais, cientificas, pessoais e políticas. Dessa forma, a obra têm a intenção de apresentar eventos e personagens históricos para que o público tenha uma compreensão aprofundada sobre o tema, sem que o filme encoraje julgamentos sobre o personagem, apesar de hoje em dia ser muito comum vermos condenações a suas ações, afinal, como o próprio Oppenheimer verbaliza em determinada cena, fica a sensação de que de fato ele têm sangue em suas próprias mãos. Porém, também fica o questionamento: Essa responsabilidade é exclusiva de Robert ou também deve ser dividida para quem - acima - mandou explodir as cidades japonesas? Esse dilema moral é muito bem apresentado no filme, o personagem é totalmente destrinchado, desde as suas devoções, ideologias e até mesmo o seu passado de associação com o governo soviético - que consequentemente inflamou a rivalidade USA vs URSS, ocasionando na Guerra Fria - e tudo isso é posto em cheque.
Christopher Nolan também foi muito assertivo com a escolha da trilha sonora quase que onipresente, e em algumas cenas, a falta do diálogo entre personagens substituída pela trilha sonora é priorizada pela mixagem de som, gerando sempre uma ansiedade e tensão no espectador, um saldo muito positivo para o filme.
Oppenheimer é um filme díficil, não muito atrativo ao público que vai a uma sala de cinema esperando assistir um filme com muitos efeitos especiais, uma ação frenética e constante. Porém, a intenção do filme nunca foi ser um blockbuster e sim passar uma grande mensagem. Mensagem essa que Nolan quer passar é o potencial destrutivo que as ações do homem podem ter, trazendo uma reflexão para as grandes corporações visando o avanço tecnológico e científicos e o impacto que a evolução nesses campos podem ter para a sociedade e para a vida como conhecemos hoje.
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