O terreiro Seara de Umbanda Mamãe Oxum, localizado no bairro Icuí-Guajará, em Ananindeua, sediou na manhã deste sábado (24) uma edição da Ação de Saúde aos Povos Tradicionais de Matrizes Africanas (POTMAS). A iniciativa levou ao local atendimentos médicos, testes rápidos, serviços de enfermagem, orientações odontológicas e encaminhamentos para especialidades, como parte de uma estratégia estadual voltada à inclusão de populações historicamente invisibilizadas.
A coordenadora estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), Tatiany Peralta, destacou que a aproximação entre o SUS e os terreiros representa um compromisso com a equidade e o respeito aos saberes ancestrais. "Os terreiros são muito mais do que espaços religiosos — são locais de acolhimento, cura e cuidado. É com esse reconhecimento que buscamos fortalecer a presença da saúde pública nessas comunidades", afirmou.
Além dos atendimentos, a ação carrega um simbolismo importante: reconhece os territórios tradicionais como espaços legítimos de resistência e dignidade. "Levar saúde até esses espaços é garantir o direito de todos a um SUS acessível, sem barreiras culturais ou preconceito religioso", completou Tatiany.
Compromisso institucional
A ação integra um Termo de Compromisso firmado pelo Governo do Estado para garantir a continuidade e a ampliação de políticas públicas voltadas a comunidades quilombolas e de matriz africana, reforçando a importância de iniciativas específicas para esses grupos tradicionais.
Realizada em parceria com a Secretaria de Estado de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Seirdh), por meio da Gerência de Promoção da Igualdade Racial, a atividade também buscou ampliar o diálogo com os terreiros. "Levar os serviços até os terreiros facilita o acesso ao cuidado e constrói pontes entre saberes diversos, fortalecendo o direito à saúde de forma integral e humanizada", destacou o gerente da Seirdh, Pai Denilson.
Ele lembrou que os terreiros, muitas vezes alvo de preconceito, exercem papel central na vida de milhares de paraenses e precisam ser valorizados como espaços legítimos de acolhimento.
Serviços ofertados à população
Durante a ação, foram ofertados atendimentos nas áreas de clínica médica, ginecologia, pediatria, enfermagem, além de testes rápidos para HIV, sífilis e hepatites B e C. A comunidade também recebeu kits de higiene bucal e participou de orientações sobre saúde odontológica.
O Centro de Promoção à Pessoa com Deficiência (CEPED) esteve presente com orientações sobre direitos e acesso a serviços como próteses, órteses, cadeiras de rodas e passe livre.
A técnica da Sespa, Patrícia Gomes, integrante da equipe da Coordenação de Saúde Indígena e Populações Tradicionais (Cesipt), acompanhou os atendimentos e ressaltou o impacto da iniciativa. "O projeto nasceu com foco nos povos de terreiro, mas também beneficia toda a comunidade do entorno. Esses espaços são centros vivos de cuidado e apoio mútuo", explicou.
Segundo ela, a presença do SUS nos terreiros fortalece o atendimento à saúde e também combate a intolerância religiosa. "É uma forma concreta de garantir que ninguém fique de fora, especialmente os que foram historicamente excluídos das políticas públicas", afirmou.
Olhar de dignidade
Além da comunidade do terreiro Mamãe Oxum, moradores de diversos bairros participaram da ação. Leda Soares, por exemplo, aproveitou para iniciar um processo de encaminhamento ginecológico. "Quero me operar e vim aqui começar tudo do início. É uma oportunidade que não podia deixar passar", disse.
Para a responsável pela casa, Inêz Rodrigues, o impacto vai além dos atendimentos. "Nosso posto de saúde quase nunca tem médico, falta vacina. Então, isso aqui é mais do que importante. A saúde não pode esperar" contou, lembrando que ela mesma aguarda atendimento com ortopedista e cardiologista.
Inêz também destacou a luta contra o preconceito religioso. "Somos um povo resistente, mas ainda muito marcado pelo preconceito. Essa parceria é uma vitória. Nosso terreiro está sempre de portas abertas, independente da religião. Estamos aqui para cuidar".
Cuidado integral e respeito às tradições
A presença de órgãos públicos em terreiros fortalece a democracia e contribui para a construção de um SUS mais sensível às diversas realidades da população. Ao reconhecer os terreiros como espaços legítimos de vida e saber, o Estado atua na superação de desigualdades históricas e na construção de uma política de saúde que acolhe, respeita e inclui.
Texto em colaboração: Bianca Botelho - Ascom SESPA e Juliana Maia Ascom SIRDH