À medida que a noite cai sobre o bairro Taquari, em Rio Branco, o pátio da Escola João Mariano se transforma em um verdadeiro tatame de oportunidades. Sob a orientação do sargento Randson Fontoura, jovens mergulham na disciplina do jiu-jítsu, em um projeto social do 2º Batalhão da Polícia Militar do Acre (PMAC).
Muito além dos golpes e técnicas, a iniciativa leva esporte e valores e incentiva o compromisso com melhores notas na escola, criando um elo entre a comunidade e a Segurança Pública. O objetivo principal é oferecer a esses jovens um leque de oportunidades para que não sejam atraídos para o mundo do crime. Ao todo, cerca de cem alunos são atendidos com a ação.
O sargento Fontoura conta que está no bairro há cerca de um ano. “Como sou professor de jiu-jítsu, sempre tive interesse em trabalhar essa parte social. O comandante abraçou essa ideia e conseguimos expandir”, conta.
A realização foi possível com o apoio da Secretaria Extraordinária de Esporte e Lazer (Seel), além da Secretaria de Educação e Cultura (SEE), que cedeu um espaço seguro para os treinos.
“A ideia do projeto em si é trazer essa polícia mais próxima à comunidade, para que as pessoas vejam que não é apenas a parte repressiva, mas também há esse lado social, de formar cidadãos por meio das artes marciais”, explica o sargento.
O público atendido no projeto é de 8 a 14 anos, uma faixa etária que geralmente é muito assediada a entrar em organizações criminosas. Na arte marcial, além do esporte, os alunos podem estreitar uma relação de confiança com o mestre.
“Nossa ideia é justamente ocupar a mente deles para não se envolverem com criminalidade. A comunidade aqui é bastante carente e muitos usam isso aqui como válvula de escape”, diz.
Para participar do projeto, a diretora da escola faz a inscrição, e o interessado tem que estar matriculado em uma escola pública e ter boas notas da escola. Para Fontoura, que está à frente da ação, a importância de estar próximo da comunidade é muito grande.
“Acho que o esporte salva vidas. Eu me criei no Seis de Agosto e lá tinha um projeto social de capoeira, onde tinha muitos adolescentes. Se tem algum caso de algum aluno de lá que se envolveu com o crime, desconheço. Sempre encontro esses mesmos jovens trabalhando, concursados. Ou seja, aquelas pessoas carentes conseguiram, através daquele projeto, levar disciplina para a vida”, destaca.
Kelvyn Kennedy da Silva, de 18 anos, faz as aulas há mais de um ano. Para ele, o jiu-jítsu é mais do que um esporte, é um estilo de vida que o fez ver o futuro de outra forma.
“Comecei a mudar minha perspectiva de vida e a pensar: se está errado, isso não é disciplina. Então, se tenho uma conduta aqui no tatame, tenho que ter essa mesma conduta lá fora. Isso é muito importante hoje, ainda mais para os jovens de comunidades periféricas”, avalia.
Kelvyn acredita ainda que a luta é uma aliada para preservar a juventude. O sonho é se tornar um policial e perpetuar o que hoje o acolhe. “É uma coisa que salva realmente vidas, porque, às vezes, perdemos pessoas inocentes para o crime, mas nesse projeto as mães sabem onde os filhos estão. Então, é muito importante a polícia ter esse trabalho de proteger o cidadão, de estar motivando a não estar lá fora fazendo uma coisa errada”, avalia.
Ludimila Marcílio, de 13 anos, disse que este é o segundo projeto da PM de que faz parte. Esteve no Guarda Mirim e, logo em seguida, passou a praticar jiu-jítsu.
“Aqui podemos ter um momento de qualidade, aproveitar e descobrir um esporte novo, ainda mais o jiu-jítsu, que é um esporte que ensina muita coisa pra gente. A relação que a gente tem com o mestre é uma relação muito boa; ele escuta, brinca e é muito carinhoso com a gente”, explica.
Para quem sonha em ser advogada, a arte marcial ajuda na disciplina: “Esse projeto tem me ajudado muito a ter uma conduta de caráter e ser uma pessoa melhor a cada dia”.
Railan Murici, de 23 anos, já conhecia o sargento de uma academia de artes marciais e, ao saber que o projeto seria realizado em seu bairro, não teve dúvidas em se voluntariar para ajudar nas aulas. A pretensão é expandir a ação para o Seis de Agosto.
Para ele, o esporte é a melhor forma de diminuir as diferenças. Por isso, foi motivado pelo sargento a também servir e fazer parte dessa transformação social.
“O sargento sempre foi um cara essencial para mim e me sinto lisonjeado de poder fazer parte do projeto”, revela.
Assim como foi impactado pelo jiu-jítsu, Railan acredita que muitas crianças e jovens podem ter uma nova visão sobre o futuro: “Acredito que o esporte pode mudar a vida dessas crianças. Você vê elas chegando com curiosidade, com vergonha, mas em pouco tempo elas se encontram querendo saber mais, aprender mais e competir. Aí você vê aquele brilho e isso é gratificante demais”.
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