A Semana Estadual da Luta Antimanicomial, promovida pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio da Gerência Operacional de Atenção Psicossocial (Goap), contou nessa sexta-feira (16) com a realização da Marcha da Luta Antimanicomial, que reuniu centenas de usuários da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), profissionais, gestores municipais e representantes da sociedade civil no Parque Solon de Lucena, em João Pessoa.
A programação segue na próxima quarta-feira (21), com atividade formativa voltada para gestores e trabalhadores dos Caps III (atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de problemas mentais graves e persistentes) e CAPS Ad III (atende adultos, crianças e adolescentes com sofrimento psíquico intenso e necessidades de cuidados clínicos contínuos) da Paraíba, conduzida por João Mendes Lima Júnior, coordenador-geral de Desinstitucionalização e Direitos Humanos do Ministério da Saúde.
Com caravanas vindas de diversos municípios - como João Pessoa, Conde, Umbuzeiro, Bayeux, Santa Rita, Itabaiana, Mamanguape, Jacaraú, Serraria e Solânea -, o ato reafirmou o compromisso com o cuidado em liberdade e o direito à cidadania plena para pessoas com sofrimento psíquico.
O evento marcou o encerramento das atividades presenciais da XVI Semana Estadual da Luta Antimanicomial, que desde 2011 reforça a importância da assistência em saúde mental centrada no território e no vínculo com a comunidade. Em edições anteriores, como a de 2024, a Paraíba já havia se destacado como o estado com maior número de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) por 100 mil habitantes, com 125 unidades distribuídas pelo estado - reflexo do esforço contínuo pela regionalização do cuidado.
Segundo a gerente operacional de Atenção Psicossocial da SES, Iaciara Mendes, a marcha representa o momento mais simbólico da mobilização. “Esse momento da marcha é o ápice da Semana da Luta Antimanicomial. É quando a gente se reúne com os municípios que têm Caps, que vêm com caravanas, ônibus, e se somam a nós para reforçar o cuidado em liberdade e o trabalho que já realizam nos territórios. É um momento em que os usuários vão à rua, fazem apresentações culturais, têm voz no microfone. É dar cara ao Dia da Luta Antimanicomial”, destacou.
A mobilização também contou com manifestações culturais, falas dos usuários e ações de sensibilização. Ainda assim, os desafios persistem, principalmente quanto ao apoio logístico para ampliar a participação dos municípios. “Ainda falta muito apoio no que diz respeito ao transporte dos usuários. Muitos municípios querem vir, mas dependem de apoio local para garantir o deslocamento com segurança. E o que reforçamos desde 2011 é que o cuidado precisa ser regionalizado, precisa acontecer próximo à casa, à família, à realidade do usuário”, pontuou Iaciara.
A luta antimanicomial, iniciada no Brasil nos anos 1980 e consolidada pela Lei 10.216/2001 (Lei Paulo Delgado), propõe substituir o modelo hospitalocêntrico por uma rede de serviços comunitários, como os Caps, as Residências Terapêuticas e as Unidades de Acolhimento. A proposta é assegurar cuidado em liberdade, com respeito aos direitos humanos.
“O que nos mantém de pé é a crença no que fazemos. Acreditamos que o cuidado prestado no território é mais integral. Ele transforma o usuário em cidadão, alguém que pode acessar não só os serviços da saúde mental, mas da educação, da assistência social, da habitação, da segurança. É reconhecer essa pessoa como um todo”, concluiu a gerente.
A Marcha deste ano reafirmou esse compromisso coletivo com uma política pública que coloca o ser humano no centro - livre, presente e participante do seu território.