Conforme a capital paraense, Belém, se prepara para receber líderes e ambientalistas de todo o mundo na Conferência do Clima, a COP 30, em novembro de 2025, dois dos seus principais espaços urbanos – o Parque da Cidade e a Nova Doca – viram modelos vivos de sustentabilidade. Uma das inovações em destaque é o sistema de tratamento de efluentes por wetlands, uma tecnologia natural e alia baixo custo, eficiência e integração ambiental.
Os wetlands, os chamados “jardins filtrantes”, utilizam plantas para purificar a água, reduzindo impactos ambientais de forma econômica e eficaz. No Parque da Cidade, dois sistemas verticais de filtragem com aeração terão capacidade para tratar entre 22 e 118m³ de efluentes por dia, suficiente para atender até 2.800 pessoas. Além da eficiência, a tecnologia exige pouca manutenção e não gera resíduos químicos, tornando-se uma solução sustentável de longo prazo.
Sustentabilidade como legado da COP 30
O Parque da Cidade, a Nova Doca e outros projetos construídos para a COP 30 vão se tornar símbolos da sustentabilidade urbana na Amazônia. Segundo a vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, essas soluções não apenas melhoram a qualidade ambiental de Belém, mas também servem como inspiração para outras cidades.
“O parque não é apenas um espaço verde, mas um exemplo prático de como a tecnologia pode melhorar a qualidade de vida e o clima na cidade. Com os wetlands, tratamos efluentes de forma natural e criamos um espaço educativo que ensina a importância da sustentabilidade na prática”, explica Hana.
Experiência internacional com wetlands
A aplicação de wetlands construídos já é consolidada em vários países. Nos Estados Unidos, a tecnologia é usada no polimento de efluentes sanitários e industriais, com destaque para sistemas inovadores na Geórgia e no Texas, que ajudam a abastecer reservatórios. Na Inglaterra, o maior wetlands do país, em Hanningfield, trata resíduos de estações de água.
Na Escandinávia, Suécia e Noruega são pioneiras na adoção de wetlands voltados para o reaproveitamento agrícola de lodos. No Oriente Médio, Omã abriga o maior sistema de wetlands do mundo – 360 hectares usados para tratar águas de poços de petróleo no deserto, demonstrando a versatilidade da tecnologia.
O diretor de Valor Social da Vale, Lourival Neto, destaca os benefícios desse sistema. “Os wetlands utilizam a própria natureza para tratar esgoto, sem necessidade de produtos químicos ou alto consumo energético. Além disso, o efluente será tratado no próprio parque, sem sobrecarregar o sistema público”, afirma.
O sistema usará oito espécies de plantas macrófitas, que desempenham papel essencial na filtragem da água. Entre elas, estão chapéu de couro, inhame, inhame roxo, helicônia-papagaio, cana índica vermelha, cana índica amarela, tália, taboa, papiro e grama esmeralda.
Parque da Cidade: um polo verde e tecnológico
Além do tratamento de efluentes, o Parque da Cidade aposta em outras soluções sustentáveis, como reaproveitamento da água da chuva e energia solar fotovoltaica. O espaço também será um grande pulmão verde para Belém, com 1.500 árvores, 190 mil plantas ornamentais e 83 mil m² de grama.
Com 75% das obras concluídas, o Parque está sendo construído em uma área de 500 mil m² de um antigo aeroporto. Além de ser o palco da COP 30, será um dos grandes legados do evento para a cidade. Após a conferência, sua primeira etapa será entregue à população, e até 2026 contará com um Museu da Aviação, centro de economia criativa, boulevard gastronômico, ciclotrilha, ecotrilha, lago artificial e diversas instalações esportivas.
Nova Doca: tecnologia e inovação no tratamento da água
O projeto de tratamento de efluentes da Nova Doca combina três tecnologias sustentáveis. A primeira são os wetlands flutuantes, ilhas com plantas fitorremediadoras que filtram naturalmente os efluentes.
“As ilhas são feitas com flutuadores plásticos de alta densidade e uma base de fibra de coco, onde as raízes das plantas absorvem a matéria orgânica da água, criando um ecossistema novo”, explica Fernando Santiago Miranda, gerente de engenharia do projeto.
Além disso, o sistema da Nova Doca conta com jardins de chuva e biovaletas, que utilizam plantas fitorremediadoras no solo e diretamente na água para filtrar resíduos.
Com 63% das obras concluídas, a Nova Doca também terá rede coletora de esgoto, áreas verdes, academia ao ar livre e ciclovia, revitalizando a conexão entre a cidade e seus rios. O projeto valoriza pontos turísticos icônicos de Belém, como Porto Futuro II, Estação das Docas e Ver-o-Rio, tornando-se mais um marco sustentável para a capital paraense.