Hoje são poucos, e vê-los é resgatar a fé e a esperança que emanaram do pequenino Menino Jesus e continuam a embalar nossos corações. Um trabalho cronologicamente didático e belo é o que exibe o presépio do casal J. Sobrinho e dona Loura.
Uma dramatização do nascimento de Jesus, realizada em 1223, em Greccio, região montanhosa da Itália, por São Francisco, tornou-se quase que obrigatória no período do Natal em grande parte do planeta: o presépio ou lapinha, tradição que, com o decorrer do tempo e a evolução da sociedade, vem-se retraindo de forma progressiva, com ameaça de desaparecer. Essa demonstração de fé, que era comum décadas atrás em quase todas as casas de famílias católicas, hoje vai se tornando rara.
Em Feira de Santana, no entanto, há 14 anos, uma família solidifica, a cada 365 dias, essa magna tradição natalina. O bioquímico, professor, artista plástico e forrozeiro J. Sobrinho (José Rodrigues Sobrinho) e sua esposa, a jornalista Eleonora Rodrigues Farias, dona Loura, ampliam anualmente o que começou em um pequeno espaço de uma sala e hoje ocupa grande parte da garagem. “Nós começamos, tem 14 anos, depois que estive em Bom Jesus da Lapa. Fazíamos em uma sala, e muitas pessoas queriam ver. Então, resolvemos colocar o presépio na garagem, o que possibilita a visitação pública”, explica dona Loura.
O presépio é todo planejado e armado sobre uma grande mesa, com a utilização de duas folhas de madeirite, medindo cinco metros por dois e meio de largura. Esse trabalho cabe a J. Sobrinho, que é um reconhecido artista plástico, contribuindo na armação do presépio, que tem maior atuação de dona Loura, com a sua habilidade de artesã. Interessante é o ordenamento dado na “lapinha”, que tem um transcorrer didático, seguindo uma cronologia de ordem bíblica, que, para o visitante, tem o papel de funcionar como uma maneira de fazê-lo entender a importância da comemoração do nascimento de Jesus, prognosticado 600 anos antes por Isaías.
São 50 peças distribuídas de forma a possibilitar um perfeito entendimento de como ocorreu o nascimento do Menino Jesus, afora fantasias que alguns procuram imprimir ao fato real. O presépio utiliza apenas símbolos e figuras existentes na época — pessoas e animais (bois e burricos) — em um cenário de terra e rochas sob o azul celeste, casinhas da arte belenense e nada que represente o mundo moderno, como às vezes tentam impingir em algumas lapinhas. Montanhas, grutas e árvores, trabalhadas com extrema perfeição em papel metro (papel kraft) amassado, bem como figuras humanas e de animais, formam um cenário colorido com aspecto quase natural, graças à habilidade especial na sua lida artesanal e à dedicação de dona Loura, que aplica arte e amor no que faz. Mas, independente da beleza do cenário com boa iluminação, a meta de dona Loura é mostrar como era a vida naquela época, mediante a figuração de três passagens bíblicas.
É uma forma de rever o sofrimento de Maria, o desalento de João, as ameaças de Herodes e, na verdade, a Luz que a Terra viu nascer com o Menino Jesus. Pode-se dizer que o presépio de mesa, que começou internamente e já há seis anos é apresentado ao público por dona Loura e J. Sobrinho na Rua Pero Vaz, 105, no bairro Sobradinho, é, também, a afirmação de uma união sólida de dois pernambucanos-feirenses. Casados há 46 anos, com filhos e netos, J. Sobrinho e dona Loura entendem que as experiências se renovam, assim como o sofrimento, mas caminhar sob a luz divina é o trajeto necessário e indispensável na materialidade humana. O belo presépio do casal pode ser visitado na Rua Pero Vaz, número 105, Sobradinho.
Por Zadir Marques Porto
Mín. 17° Máx. 29°