Formada por representantes femininas de diversos locais do país, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) teve sua luta de 40 anos por direitos homenageada em sessão solene do Congresso Nacional nesta segunda-feira (12). A data marca ainda 41 anos da morte da líder sindical e camponesa Margarida Alves, assassinada a mando de latifundiários e que, há um ano, passou a compor oLivro dos Heróis e Heroínas da Pátria .
A sessão, realizada no Plenário do Senado, foi requerida pela senadora Augusta Brito (PE-CE) e pela deputada Camila Jara (PT-MS). A homenagem foi aberta com a entoada da cançãoSem Medo de Ser Mulherpor representantes do MMC. A organização surgiu no Brasil nos anos 1980, em resposta às mudanças na agricultura, de forma a promover a agroecologia. Também tem como diretriz a luta dos direitos das mulheres, em especial o combate a todas as formas de opressão e violência de gênero.
A senadora Augusta Brito enfatizou que, há quatro décadas, “mulheres de todo o Brasil se uniram, levantando bandeiras e enxadas, em uma luta por justiça, igualdade e dignidade no campo”.
— Em tempos de adversidade e transformação, essas mulheres não apenas desafiaram as estruturas opressoras da sociedade, mas também plantaram as sementes de um futuro mais justo e sustentável para todas nós. (...) Empregar a expressão “mulheres camponesas” é um ato de afirmação e valorização do papel dessas mulheres na sociedade; é uma forma de dar visibilidade às suas lutas e conquistas, que muitas vezes são negligenciadas. (...) É com imenso orgulho e gratidão que honramos a memória dessas guerreiras, reconhecendo suas conquistas e renovando nosso compromisso com suas causas — afirmou a senadora.
Para a deputada Camila Jara, a sessão solene não é só uma homenagem, “mas um agradecimento do povo brasileiro a quem mantém essa estrutura do país de pé”.
— Que a gente consiga avançar na garantia de direitos. (...) Que permaneçamos em marcha até que todas sejamos livres — disse a deputada.
O ministro de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, destacou que há em curso hoje uma mudança com a liderança crescente das mulheres, que “estão à frente de diferentes lutas”. O gestor destacou programas do governo federal destinados às mulheres camponesas, como 90 mil quintais produtivos.
— Mulheres são muito importantes e decisivas para nós termos soberania alimentar no Brasil. Alimentar é um verbo feminino, e é por isso que hoje o grande esforço nosso é tirar o Brasil do Mapa da Fome — enfatizou o ministro.
Já a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que o MMC luta com muita dificuldade, mas alcança conquistas.
— A dura realidade ainda nos permeia. Ainda somos aquelas que estão mais embaixo na questão da igualdade — disse a ministra, ao lembrar das dificuldades para se conseguir implantar a Lei da Igualdade Salarial, que está tento a constitucionalidade contestada no Supremo Tribunal Federal (STF).
Integrante da Coordenação Nacional do MMC, Mirela Diovana Milhomem destacou que o movimento, que se espalha em 16 unidades federativas, é formado por agricultoras, ribeirinhas, extrativistas, negras, indígenas e descendentes de europeus e que é preciso reafirmar a luta internacional em defesa dos povos.
— Através do feminismo camponês popular reafirmamos a solidariedade na luta de gênero, raça, classe e etnia. (...) Reafirmamos a luta na defesa ambiental e planetária do campo, das águas e das florestas. (...) Que cessem a invasão por meio de grandes projetos do agro-hidro-minero-negócio — disse Mirela.
Já a representante da Marcha Mundial das Mulheres, Sônia Coelho, lembrou a conquista do direito à licença maternidade paras mulheres do campo.
— Outra luta fundamental é a questão da seguridade, a questão da previdência no campo, porque sabemos que é uma política fundamental para as mulheres no campo e sabemos hoje quantas famílias são sustentadas por aposentadoria das mulheres no campo.
Integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras, Joana Santos Pereira disse que a luta feminista se retrata na luta contra as opressões impostas às mulheres, contra o patriarcado.
— Fazer homenagem é muito bom, porque fortalece nossas lutas, nossas forças. (...) Essa luta se retrata no monitoramento da pauta que trazemos.
O MMC é um símbolo de empoderamento, de resistência e resiliência, em um cenário onde muitas vezes as vozes das mulheres são silenciadas, segundo Anderson Amaro Silva dos Santos, do Movimento dos Pequenos Agricultores.
— A luta das mulheres camponesas é de todas e de todos nós e continua cada dia mais necessária. (...) O MMC nos inspira a continuar na construção do novo homem, e nós devemos superar juntos — expôs Santos.
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