O sétimo episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história de Rita Regina da Silva Castro, aluna do Grupo 15 da Turma 2/2021, do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE)
Um passado marcado por uma infância simples, uma adolescência de incertezas e episódios de tragédia e dor que moldaram o destino de forma inesperada. Em meio às adversidades, um encontro singular com uma delegada de polícia, cujo atendimento humanizado resplandeceu como uma luz, no seu dia mais sombrio, desencadeou em uma transformação profunda na sua trajetória.
Agora, diante dos desafios da vida, a protagonista desta história carrega consigo não apenas as cicatrizes do passado, mas também um novo propósito, impulsionado pela esperança e pelo desejo de fazer a diferença no mundo que a cerca.
Os primeiros sete anos de Rita foram vividos em Itatira, sua terra natal, no interior do Ceará. Filha de pais agricultores, ela relembra essa fase da sua história. “Lembro que minha mãe trabalhava em casa, vendia confecção pra sustentar a gente, e meu pai trabalhava na roça. E levava os meus irmãos. Algumas vezes eu ia, mas não ficava trabalhando. Era apenas para não ficar em casa só”, recorda. A vida da família mudou quando o irmão mais velho de Rita foi morar em Fortaleza e levou os pais e os irmãos.
Quando se mudou para a periferia de Fortaleza, ainda aos sete anos, Rita teve que se acostumar com uma nova rotina. “Aqui, a minha mãe foi trabalhar em casa de família e como diarista. E o meu pai era vendedor ambulante. Vendia verduras, condimentos, alho de porta em porta. Eles trabalharam assim até se aposentarem e voltar para lá. Estudamos em escolas públicas a vida toda. E minha irmã mais velha assumiu muitas responsabilidades por cuidar de mim e dos meus irmãos”, ela relembra. Durante a adolescência, Rita ainda não tinha certeza de seu caminho. “Eu gostava de estudar, mas não tinha um sonho específico, não me encontrava”, diz ela.
Uma sequência de acontecimentos trágicos marcou a história de Rita drasticamente. A perda de sua melhor amiga foi o primeiro deles. “Eu perdi uma melhor amiga que na época era minha cunhada. Isso mexeu muito comigo, porque a gente era muito amiga e ela tinha um sonho de ser mãe e ela deixou uma filha de um ano e meio. Então, eu fiquei muito abalada”, conta.
A morte de seu irmão, em um assalto, no ano seguinte, na noite de Natal, deixou marcas profundas. “Ele foi tirado de nós de forma tão violenta, tão injusta. Ele estava saindo para trabalhar e atiraram nele, na porta da casa da minha irmã. Eu acompanhei todo o trabalho da polícia e da perícia”, suspira. E foi através dessa trágica perda que ela viu sua jornada tomar outros rumos. “Foi nesse momento que eu tive contato com a delegada Evna e sua equipe. Ela e a equipe me fizeram realmente refletir, porque todo mundo me tratou muito bem. A minha visão da polícia mudou, mudou completamente pela forma como eles conduziram aquele momento. Eu lembro a forma como ela falou com a minha mãe, eu lembro a forma como me orientaram sobre os próximos passos que eu devia fazer. E isso daí foi uma sementinha que foi plantada. Por isso que eu falo: a morte do meu irmão me deu propósito. A partir dali eu tive a visão diferente da polícia. A partir dali eu estudei para o concurso. Hoje, eu quero estudar direito. Eu quero continuar estudando, eu quero ser delegada de polícia,” conta emocionada e determinada.
Nos anos seguintes, após enfrentar um divórcio e uma depressão, Rita decidiu se dedicar ao estudo para concursos públicos. “Quando eu divorciei, realmente eu fiquei sem chão, fiquei realmente muito depressiva. Foi a junção de todas as perdas e lutos que eu vinha vivendo. Minha amiga me visitou e falou do concurso, falou que estavam falando do concurso da Polícia Civil e que esse seria o meu concurso. Isso foi em dezembro, em janeiro, eu fui num cursinho presencial, me matricular e comecei a estudar. Mas era um momento muito difícil, eu estava recomeçando a minha vida, tive muita dificuldade. Coloquei na minha cabeça que eu não iria desistir. E sempre me lembrando o porquê de eu estar ali. E, apesar das dificuldades da adaptação a esse novo estilo de vida, uma vida de concurseira, eu fiz muitos amigos no cursinho que me ajudaram muito e que hoje estão fazendo o curso de formação junto comigo. Esse foi o primeiro concurso que eu fiz e passei. Eu queria muito ser aprovada no meu estado, servir no meu estado e consegui”, destaca a futura inspetora.
A experiência no curso de formação tem sido desafiadora, mas recompensadora para Rita. “No começo foi bem desafiador porque era novo, absolutamente tudo era muito novo”, compartilha ela, refletindo sobre os primeiros dias no curso. Rita se via em um ambiente totalmente diferente, onde cada passo era uma aprendizagem. “Eu ficava um pouco até tensa porque eu queria fazer tudo certo, não queria errar”, confessa.
Ao longo dos últimos meses, Rita começou a criar laços com seus colegas de turma. “A gente foi criando vínculos com o pessoal do grupo, do G15, e a gente está se ajudando sempre”, relata. A interação com policiais veteranos também foi crucial, pois compartilhavam suas experiências e orientações. “Tem sido muito bom esse contato com os professores e instrutores, policiais experientes. A gente percebe que a Aesp tem todo um cuidado em formar bons profissionais a partir da qualidade que a gente vê no ensino, que a gente vê todos os dias em sala de aula”, destaca, reconhecendo o apoio fundamental que recebeu.
Apesar dos desafios, Rita está determinada a superá-los. “Eu fui realmente me encontrando em tudo, realmente eu estou no lugar certo, é isso que eu quero”, afirma com convicção. Seu compromisso em se tornar uma profissional exemplar é evidente na determinação em superar obstáculos e no desejo de fazer a diferença na sociedade. Além disso, ela destaca a identificação com disciplinas práticas, como armas e munições, além de defesa pessoal. “Essas disciplinas são as que realmente mais chamam a minha atenção”, ressalta. Rita reconhece a importância desses conhecimentos para sua futura atuação policial e está determinada a dominá-los, mesmo que enfrente dificuldades no processo de aprendizagem.
Dentro da Polícia Civil, Rita visualiza um futuro repleto de crescimento e dedicação. Ela expressa o desejo de dar o melhor, especialmente nas áreas que mais atraem sua atenção, como a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa e as delegacias de defesa dos vulneráveis. “Dentro da Polícia Civil, eu realmente quero crescer, quero dar o meu melhor, e essas são áreas que eu mais me identifico até o momento”, afirma ela.
Além de suas aspirações na polícia, Rita descobre em si mesma uma vontade de contribuir de maneira ainda mais significativa. Apesar de se considerar uma pessoa tímida, ela é encorajada pelos colegas do G15 a considerar a possibilidade de se tornar uma instrutora. Esse reconhecimento de seu potencial a inspira a pensar no futuro não apenas como uma policial atuante, mas também como uma educadora, compartilhando conhecimento e inspirando outros, assim como seus professores têm feito por ela.
Rita planeja continuar seu caminho de desenvolvimento pessoal e profissional, buscando equilibrar seus estudos na faculdade de Direito com a preparação para futuros concursos. Seu objetivo final é retornar ao ambiente que tanto a influenciou, não no papel de aluna, mas como uma delegada exemplar, seguindo o exemplo inspirador de Evna. “Eu me vejo, sim, voltando para cá, como aluna para um novo cargo de delegada. Eu quero ser uma profissional como ela, tão boa quanto ela, quero ser humana e ter a sensibilidade com as outras pessoas, assim como ela teve comigo. E quem sabe um dia eu não atue junto com ela”, conclui a aluna, evidenciando sua determinação em seguir um caminho de excelência e serviço público.
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