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“Passado, Presente, Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

O quarto episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história de Anderson Maxwell Felipe das Neves, aluno do Grupo 02 da Turma 2/2...

28/01/2024 às 10h40
Por: J6 Live Fonte: Secom Ceará
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Foto: Reprodução/Secom Ceará
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O quarto episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história de Anderson Maxwell Felipe das Neves, aluno do Grupo 02 da Turma 2/2021, do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará

Em meio a adversidades, uma criança buscou força para superar as dificuldades e construir um caminho próprio, refletindo não apenas as marcas das batalhas, mas também a resiliência que o tornou um personagem singular em sua trajetória de vida.

Nas ruas agitadas de sua infância, o menino enfrentou uma jornada cheia de desafios. Crescendo em condições adversas, ele estava rodeado por tentações que poderiam levá-lo por caminhos difíceis. No entanto, sua avó tornou-se sua âncora, encaminhando-o de modo correto antes ao destino incerto, assumindo a missão de criá-lo com amor e determinação.

A falta de recursos financeiros foi um desafio constante, especialmente quando o sonho da faculdade surgiu. Com obstáculos financeiros parecendo intransponíveis, ele percebeu uma situação única durante quase um ano: dormir na biblioteca e estudar para concursos, já que não havia dinheiro para o transporte.

O quarto episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história de Anderson Maxwell Felipe das Neves, aluno do Grupo 02 da Turma 2/2021, do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará.

Foto: Reprodução/Secom Ceará
Foto: Reprodução/Secom Ceará

Passado

A vida de Anderson é uma narrativa de resiliência e superação, moldada por uma infância tumultuada. Nascido em um cenário desafiador, na cidade Mossoró, interior do Rio Grande do Norte, ele enfrentou obstáculos desde cedo. “Quando a minha mãe estava gestante de mim, ela se separou do meu pai. Depois de uns dias, ela se juntou a um usuário de drogas. Até meus três anos de idade eu vivi na companhia deles dois. Eu sofri tortura, ele batia em mim, colocava água no meu ouvido. Ele não gostava de mim. Isso quem me fala é a minha avó, que me criou”, conta o aluno. Para garantir sua sobrevivência, a avó – em conjunto com um tio – tomou a decisão de criá-lo. Anderson foi acolhido por aquela senhora que se tornou sua mãe, pai e avó simultaneamente.

A luta diária para guiá-lo pelo caminho certo foi um ponto crucial, enfrentando as adversidades de uma rua perigosa, onde prostituição, bares e atividades ilícitas eram comuns. Mesmo diante desses dilemas, ela batalhou para afastá-lo das más influências e do caminho perigoso que muitos de seus amigos estavam trilhando. “Eu passava praticamente o dia sozinho em casa, ia pra escola de manhã, à tarde estudava e, no finalzinho da tarde, ficava junto daqueles mesmos amigos que estavam sendo influenciados a ir para o caminho ruim. Quando a minha avó chegava em casa, ela me dava uma surra, colocava de castigo. E esse era um ciclo. E ela foi lutando, lutando para ver se eu não entrava nesse meio. Comecei a ir à igreja, ainda no ensino médio, e consegui terminar o ensino médio sem entrar pro mundo errado. Isso foi um ponto positivo que minha avó já conseguiu fazer comigo”.

Ao terminar o ensino médio, a avó o incentivou a contribuir em casa, iniciando uma jornada profissional que começou como servente de pedreiro e que se desenvolveu em diversas áreas, refletindo a força e determinação que ele conquistou ao longo do tempo. Diante da difícil realidade em que vivia, sentiu a necessidade de buscar um caminho mais promissor para si e sua família: Anderson decide que é hora de buscar uma faculdade e se dedicar aos estudos como uma forma de escapar do ciclo negativo, reflexo de um lar desestruturado. Motivado pelo propósito de ajudar pessoas, surge a oportunidade de cursar Odontologia. E assim começar uma nova jornada de lutas e superações.

“Depois de servente de pedreiro, fui garçom, trabalhei como frentista e em uma indústria de porcelanato. Nesse meio tempo, eu disse: “Cara, eu não quero isso, eu não quero viver assim. Eu não quero viver nessa situação.” Eu não via ninguém ao meu redor em quem eu pudesse me espelhar. Minha avó foi minha heroína. Se não fosse por ela eu não estaria aqui contando essa história, porque oportunidade para fazer coisas erradas eu tive. Mas eu costumo dizer que o local onde nascemos pode até influenciar, mas nunca será um fator determinante para o caminho que vamos trilhar”, afirma.

As adversidades iam surgindo a cada novo degrau. Diante da dificuldade financeira para custear a mensalidade, ele decide voltar seus esforços para os concursos públicos, especialmente na área policial, visando uma carreira na Polícia Militar, para garantir a conclusão do curso de Odontologia. E foi a partir daí que viu sua vida traçar um novo caminho até então desconhecido. “Comecei a ver e aprofundar nos estudos de Direito Penal e Processo Penal. Fiquei maravilhado com isso, já não queria saber de outra coisa”.

Foi nessa época que Anderson aprendeu o verdadeiro significado da palavra resiliência, pois, teve que enfrentar o julgamento de seus familiares que não compreendiam a jornada intensa de estudos. Essa adversidade o fez transformar a biblioteca municipal de Mossoró, em sua casa. “Eu não tinha dinheiro para pagar o ônibus para ir à biblioteca. Tive que estudar em casa. Foi o outro problema: sentar e todo mundo olhar para você. Minha avó dizia que eu queria essa vidinha de olhar para o computador, de não querer trabalhar. Ninguém respeitava. Ou seja, é como se eu estivesse ali sem fazer nada. Ninguém respeitou o processo. Eu entendo perfeitamente minha avó, porque é uma pessoa que nunca teve instrução. Ela não conseguia vislumbrar essa ideia de que uma pessoa conseguiria passar num concurso público e ganhar bem”, ressalta.

Foto: Reprodução/Secom Ceará
Foto: Reprodução/Secom Ceará

“Eu comecei a dormir na biblioteca. Eu não tinha dinheiro para ir à faculdade, voltar pra casa e depois ir pra biblioteca no outro dia estudar. Então, eu ia à faculdade, levava uma roupa na mochila, às vezes um colchonete, quando dava levava um lanche também, e na volta da faculdade eu já descia na biblioteca que ficava aberta 24 horas, e dormia lá”, relembra.

O futuro inspetor decidiu intensificar os estudos e, após uma trajetória de 16 reprovações, vieram finalmente quatro aprovações consecutivas, entre elas o concurso da Polícia Civil do Ceará. Mesmo sem corrigir a prova, ele recebeu a notícia de que havia sido aprovado, o que o surpreendeu e motivou a seguir a carreira de policial civil no Ceará.

Anderson atribui a Deus essa aprovação. “Efetivamente para ela, eu não estudei, porque estava focado no outro concurso. Eu estava consciente de que não tinha passado, nunca que eu ia passar numa prova desse nível altíssimo. Foi meu amigo quem me informou que eu tinha passado e que ia fazer o TAF(¹). Eu nem acreditei. Eu não imaginava que eu conseguiria passar nessa prova”, afirma.

Presente

Agora como aluno do Curso de Formação para Inspetores e Escrivães da Polícia Civil do Ceará, Anderson descreve o período do curso como extremamente desafiador. Porém, ao mesmo tempo, gratificante. Para ele, o curso não apenas proporciona aprendizado técnico, mas também uma transformação pessoal, abrindo um novo ciclo de vida e deixando lembranças positivas. “Essa fase do curso eu acho desafiador, mas ao mesmo tempo gratificante. Eu estou tão feliz de estar fazendo aquilo que eu gosto, que mesmo passando o dia todo na Aesp eu não sinto a hora passar. Lógico que tem dias cansativos, mas não é um fardo. Fomos muito bem recebidos e acolhidos pelos monitores, professores. O ensino integrado também me chamou muita atenção, e eu acho que é por isso que o Ceará é referência. A gente aprende já no curso de formação que as polícias não são rivais, mas complementares. Uma ajuda no trabalho da outra. A Aesp cumpre muito bem esse papel de integrar as forças de segurança”.

Hoje, a avó de Anderson entende a importância e a revolução que os estudos fizeram na vida do neto e sente orgulho do caminho que ele tem trilhado. “Um dia eu disse para a minha mãe que a minha motivação para estudar era porque eu tinha 30 anos e nunca tive condições de dar a ela um presente de Dia das Mães. Agora, depois de tudo que passei, ela entende minhas escolhas e chora toda vez que fala comigo no telefone. Tem orgulho de mim e conta pra todo mundo que estou no Ceará me formando para ser policial. E eu me tornei referência também para as pessoas da rua onde eu morava. Eles viram que é possível, sim, conquistar um futuro melhor”.

Foto: Reprodução/Secom Ceará
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Futuro

Os planos do futuro inspetor dentro da Polícia Civil do Ceará são cheios de expectativas e vontade de crescer. Além de expressar também um retorno à Academia como docente e aluno do Curso de Formação para Delegados. “Eu quero aproveitar tudo que a Polícia Civil tem para me oferecer. Quero fazer cursos de capacitação. Atualmente, minha especializada número 1 é a CORE(²). Quero também cursar Direito e poder fazer um concurso para delegado. Quem sabe voltar à Aesp como instrutor de algum curso . Eu sei que agora é só o começo de muita coisa boa que pode vir pela frente”, conta com o olhar esperançoso de um futuro que ele já consegue vislumbrar.

E os planos de futuro não se limitam à vida profissional. “Eu quero, sim, construir uma família e dar aos meus filhos a família que eu não pude ter. Quero dar qualidade de vida para a minha mãe e tentar retribuir de alguma forma tudo que ela fez e faz por mim”, conclui Anderson.

(1) TAF: Teste de Aptidão Física

(2) Core: Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil do Estado do Ceará

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