100 anos do Massacre de Tulsa
O que realmente aconteceu em um dos episódios mais violentos da história racial dos Estados Unidos, e que é pouco conhecida
Registro histórico da destruição de Tulsa Foto: Reprodução
No dia 31 de maio de 1921, a cidade de Tulsa, no estado de Oklahoma, foi invadida por uma multidão de pessoas brancas que destruiu violentamente todo o distrito de Greenwood. Essa era uma das maiores e mais prósperas comunidades negras dos Estados Unidos à época, por esse motivo foi chamada de “Wall Street Negra”. A cidade era moderna e tinha mais de 100 mil habitantes. Alguns poços de petróleo foram descobertos anos antes do massacre e enriqueceram homens brancos e alguns negros que tinham terras na época.
Naquele período havia muita violência racial, linchamentos e a prática severa de segregação racial, onde os negros não podiam sequer estar nos mesmos ambientes dos brancos. A própria cidade era marcada com a separação entre a parte negra e a parte branca da cidade. O distrito de Greenwood ficava na parte norte da cidade de Tusla e por volta de 1905 começou atrair comerciantes e empreendedores negros, tornando em pouco tempo a comunidade muito bem sucedida.
Toda essa prosperidade da comunidade negra, desencadeou um ressentimento por parte dos brancos que achavam que os negros tinham mais do que eles, que tiravam seus empregos e não aceitavam que os afrodescendentes fossem mais bem-sucedidos que eles. Todo esse clima se alimentava com o crescimento do grupo supremacista branco Ku Klux Klan que nessa época fundou uma segunda versão do grupo (a primeira ocorreu entre 1860 e 1870) e muitos lideres municipais, agentes públicos e membros importantes da sociedade branca faziam parte dessa congregação.
O evento que desencadeou essa tragédia se deu em 30 de maio de 1921. Dick Rowland de 19 anos, uma engraxate da cidade entrou no elevador do Drexel Building para utilizar o único banheiro onde negros eram permitidos na região. Ao entrar no elevador, supostamente Rowland tropeçou e pisou no pé de uma moça branca de 17 anos chamada Sarah Page, ela era a ascensorista. Ela gritou e Rowland foi detido.
No dia seguinte, jornais noticiaram que o jovem negro havia tentado estuprar a moça. Não somente isso, mas publicaram também um editorial intitulado “Negro será linchado esta noite”. A população branca se reuniu em frente à cadeia na tentativa de linchar o engraxate, mas o xerife da época, Willard McCullogh conseguiu dispersar a multidão. No outro lado da cidade, os negros discutiam para evitar o linchamento de Rowland.
Um grupo de negros chegou a ir armado ao tribunal no intuito de defender o jovem do linchamento, porém o xerife garantiu que nada aconteceria. Vendo aquela cena, homens brancos que estavam em maior número, saíram para buscar suas armas também. Num determinado momento, um homem branco tentou desarmar um negro e a arma disparou.
Foi aí onde tudo começou. Um grupo de negros retornou a Greenwood e alguns brancos foram atrás, saqueando lojas de armas e munições locais. Os alvos não eram mais específicos todo e qualquer negro seria alvo dos tiros. Na madrugada do dia 1º de junho as casas do bairro estavam em sua maioria incendiadas, não só as casas, mas também as lojas. 35 quarteirões dos 40 do bairro, foram completamente destruídos.
Registros históricos da destruição de Tulsa Foto: ReproduçãoAs autoridades não fizeram muita coisa para evitar o massacre, escolhendo proteger as áreas ocupadas por brancos, que nem estavam sob ataque. Os relatos dizem que uma metralhadora e até mesmo aviões foram usados no ataque. Alguns sobreviventes relatam que mulheres e crianças eram mortas a tiros enquanto tentavam fugir dos ataques. O corpo de bombeiros não respondeu ao chamado.
Quando esse cenário de massacre chegou ao fim, a guarda nacional veio por volta das 9h15 da manhã com a maior parte da cidade destruída. A cidade estava sob lei marcial e milhares de cidadãos tinham sido detidos por guardas armados. Até hoje não há um número oficial para as mortes em Tulsa. Uma comissão de investigação emitiu um relatório em 2001 que dizia que era possível confirmar a morte de 39 pessoas, sendo 26 negros e 13 brancos.
Acontece que, estimativas anteriores, obtidas em período mais próximo ao episódio, contabilizam até 300 mortes, e isso pode ser verdadeiro já que muitos corpos foram jogados em valas comuns e no rio Arkansas, segundo relatos de testemunhas. O tempo passou e as pessoas não queriam falar sobre o acontecido. Uns pela dor, outros pela vergonha, a aos poucos, tudo foi caindo no esquecimento.
Em 1997 uma comissão estadual foi formada para investigar o episódio e recomendou o pagamento de reparações para os sobreviventes. Também foram encontrados indícios das valas comuns e recomendou-se escavações para confirmar sua existência, mas as autoridades decidiram não levar as recomendações adiante. Agora, próximo de completar 100 anos do acontecido, o massacre está sob investigação novamente.
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