A Ghost Story não é um filme de terror, como o próprio título talvez sugira a primeira vista. Com um orçamento enxuto de U$100.000,00, a obra escrita e dirigida pelo novato e promissor David Lowery (Amor Fora da Lei), "Sombras da Vida" (como ficou conhecido no Brasil) conta a história de um casal, M, interpretada por Rooney Mara (Entre Mulheres e Ela) e C, interpretado por Casey Affleck (Interestelar e Onze Homens e um Segredo) que enfrentam a vida monotóna e de certa forma comum de um casal que caiu na rotina, porém tudo muda quando C acaba falecendo em um acidente de carro. A partir disso, o vemos como um fantasma, uma figura um tanto quanto cartunesca - um lençol com dois buracos para os olhos - observando a desamparada M, permanecendo ao lado dela no lar que ambos construíram e desenvolveram pelo tempo que for necessário. Ela, por outro lado, não o vê e também não o sente.
Com essa premissa, A Ghost Story pode parecer simplista e minimalista demais.
A escolha do diretor pela proporção de tela 4x3 1.33:1 favorece e exalta o ponto central do filme - a presença do fantasma - porém, também nos remete a fotos de polaroide antigas, passando uma mensagem de que o que estamos assistindo, na verdade, é uma metáfora sutil e precisa sobre temas muito mais profundos e complexos do que uma mera história de fantasmas: o tempo e a efemeridade da vida. Pois, assim como uma fotografia, a vida pode perdurar por muito tempo, mas ainda sim é finita. A escolha do diretor pelos pacientes plano-sequências, cenas mais longas com poucos (ou sem) cortes e um roteiro com poucos diálogos poderia tornar o filme cansativo para quem o assiste, e de fato, talvez seja para alguns. Porém, essas escolhas são o maior acerto de Lowery junto com seu cinegrafista, Andrew Droz Palermo, pois, torna o filme contemplativo, reflexivo e igualmente caprichado a modo de fazer uma simples cena ter um significado tão profundo, como a da personagem da Rooney Mara sentada no chão comendo uma torta inteira, enquanto o fantasma de C a observa, transmitindo uma imersão a dor que ela está sentindo por sua perda. Outro acerto do filme é a escolha da trilha sonora (composta por Daniel Hart e sua banda, Dark Room) que traz delicadeza ao filme, complementando de forma única a abordagem que a obra quer transmitir.
Todo esse capricho do diretor não é por acaso, pois torna o filme totalmente interativo - dentro do nosso imaginário -, uma vez que o filme nos leva a momentos de profunda reflexão sobre o verdadeiro significado da vida e da existência como um todo. O próprio monólogo de Will Oldham (de Antiga Alegria e Wendy & Lucy) traz uma quebra de paradigma no momento certo do filme e é extremamente pertinente, ao abordar esse tema de forma impactante mas ao mesmo tempo sutil, por mais niilista que possa soar.
A Ghost Story é um filme que se destaca ao transmitir sua mensagem com clareza, levando a uma profunda reflexão sobre o significado da vida e da sua existência. Sua capacidade de provocar pensamentos e emoções faz dele uma experiência cinematográfica inesquecível, convidando o público a apreciar e valorizar o que realmente importa na vida, independentemente de sua perpetualidade.
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